A vida é um dom maravilhoso e gratuito de Deus. Se é dom de Deus,
também é tarefa humana. Temos de colaborar, rentabilizando os talentos que o
Senhor nos deu, vivendo com dignidade e exercendo a nossa cidadania, servindo com
amor. Servir é expressão de liberdade interior, manifesta grandeza de alma e
sentido de responsabilidade face aos outros. E servir é possível a todos,
com pequenos ou grandes gestos desde que animados por amor sincero. O primeiro
servidor foi Jesus, manso e humilde de coração. Quem serve torna-se manso e
humilde, entende quão grandioso é gastar-se pelos outros e experimenta no dom
de si a alegria da gratuidade. Mais do que ninguém, os jovens entendem isto
perfeitamente e são capazes de gestos extraordinários e contagiantes.
Pois é aos jovens, a eles e a elas, que agora me dirijo, neste
início do ano que o Santo Padre o Papa Francisco quis dedicar à Vida Consagrada
com os objetivos de fazer memória agradecida do passado, abraçar o futuro com
esperança e viver o presente com paixão.
No meio das tuas hesitações e dificuldades no presente, no meio
das tuas inquietações quanto ao futuro e perante a necessidade que sentes de
tomar opções decisivas na tua vida, caro jovem, não te deixes seduzir pelo que
destrói, pelo poder, pela filosofia do nada ou pela mesquinha ambição pessoal.
Não tenhas medo dos compromissos definitivos quando assumidos livre e
responsavelmente. O apreço pela vida como dom de Deus, os apelos que brotam do
seio da comunidade humana, a atração pelos valores e as escolhas fundadas e
fundamentais reclamam da tua existência um serviço aos outros, ao jeito de
Jesus. Não sentes, porventura, ecoar, aí no teu coração, o apelo de Jesus: “Se
alguém quer servir-Me, que Me siga” (Jo 12, 26)? Convido-te, pois, a que te
ponhas de sentinela, vigilante, e abras o teu coração à voz desse Amigo para
que Ele te ilumine e te ajude a fazer as escolhas que deves fazer na tua vida!
Ele está aí, junto de ti, a pedir-te que escutes os seus ensinamentos e apelos,
que fales com Ele, que aprendas com Ele, que caminhes com Ele, que confies
n’Ele. E porque a vocação é uma realidade mediada, não deixes de pedir conselho
a alguém que te possa ajudar a discernir o teu caminho! Assim, construirás a
história bela da tua vocação e da tua vida: Deus que te chama com amor,
gratuitamente, e tu que respondes, também com amor, livre e responsavelmente,
aos seus desafios, aos desafios da sua messe.
A Igreja tem de continuar a sua missão no mundo, missão tão
necessária quão urgente. Para isso, Jesus Cristo quis precisar de ti, a Igreja
e os outros precisam de ti, do teu entusiasmo, da tua alegria, da tua
traquinice, da tua irreverência, dos teus talentos que são imensos e variados.
É certo que, nesse trabalho, o Senhor não prometeu facilidades, apenas nos disse
que estaria sempre connosco. Por isso, dificuldades e sacrifícios não faltarão
como não faltam em qualquer estádio ou esquina onde se joga a vida. Mas serás
feliz por servir, serás testemunha daquela alegria que o mundo não pode dar.
“Depois de tanta violência e opressão - referia São João Paulo II -, o mundo
precisa de jovens capazes de "lançar pontes" para unir e reconciliar;
depois da cultura do homem sem vocação temos urgência de homens e mulheres que
acreditem na vida e saibam acolhê-la como chamamento que vem do Alto, daquele
Deus que chama porque ama; depois do clima de suspeita e de desconfiança, que
corrompem os relacionamentos humanos, somente jovens corajosos, com mente e
coração abertos a ideais elevados e generosos, poderão restituir beleza e
verdade à vida e aos contatos humanos”.
Não sentes?... Jesus toca-te no ombro. Ele confia em ti e sabe que
tu és capaz!
D. Antonino Dias, Bispo de Portalegre -
Castelo Branco
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